Neste blog você encontrará informações sobre escrita criativa, publicação independente e mais detalhes sobre o escritor Norman Lance, autor de "Conexões".
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
escreva o seu livro - dica do dia: persistência
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Imperador Perdido
Em 1402 o imperador chinês Zhu Yun Wen foi deposto pelo seu tio Zhu Di. O antigo imperador desapareceu no meio do caos das batalhas entre os dois exércitos. Acreditou-se que ele havia fugido disfarçando-se de monge. A história nunca mais registrou o seu nome desde então.
O que teria acontecido a ele? A morte é a opção menos interessante. Imagine se ele realmente se disfarçou de monge e, após viver a opulência, ser elevado a um estado de deus vivo, de desfrutar todos os prazeres da corte imperial, ele tenha simplesmente entrado em uma vila, pegado um pedaço de terra e tenha vivido pacatamente os anos que lhe faltavam. O que se passava em sua mente? Estaria ele mais feliz? Como seria ver e viver dois mundos tão distintos? (e num tempo sem televisão, revistas e culto a imagem isso seria possível). Nascer na glória imperial e morrer como um fazendeiro ou pescador no interior da China do século 15?
Nas histórias (ficção) só se preocupa em relatar o que se passa com os personagens centrais, mas e o que será que acontece com os demais? E na história real, o que se passa com os personagens deixados de lado, qual é o fim deles e como eles vivem até o dia derradeiro? Não seria a vida deles muito mais rica do que a previsível história do herói, da heroína, da donzela e do vilão? Não estaria ai, nas bordas, nos esquecidos, a ficção que valeria a pena ler, que renovaria os já batidos tema da literatura, cinema, teatro e tv?
Vale sempre a pena imaginar. Espero postar em breve uma vida imaginária do imperador Zhu Yun Wen, esquecido pela história em alguma vila litorânea de uma antiga China.
3a Parte
O terceiro extrato do livro Psicopatologia da Vida Cotidiana, de Sigmund Freud, narra um caso passado no início do século 20 com um jovem alemão. Aqui, mais uma vez, o aspecto narrativo, a qualidade literária do texto, fascina. Além da percepção de uma sutil ação da mente, o texto pode ser lido como um conto muito engenhoso. Numa sociedade sexualmente repressiva, com valores rígidos e dolorosos para aqueles que viviam sob os seus dogmas, se passou o seguinte:
“Um jovem foi apresentado a uma senhora inglesa hospedada na mesma pensão e simpatizou-se com ela. Na primeira noite após terem sido apresentados, conversando na língua da terra da senhora, que ele conhecia muito bem, o jovem quis dizer ouro em inglês. Apesar de seus esforços para encontrá-la, a palavra não lhe ocorreu. Em vez dessa, a palavra francesa or¸ a latina aurum e a grega chysosimpuseram-se obstinadamente como substitutas, tanto que ele só as rejeitou com muito custo, apesar de saber que elas não tinham parentesco com a palavra que ele procurava. Por fim, o único caminho que encontrou para se fazer entender foi tocar um anel de ouro na mão da senhora; e, muito embaraçado, ele assim soube por ela que a palavra tão procurada para dizer ouro era “gold” exatamente como a palavra alemão, ou seja, “Gold”. O grande valor desse contato, que o esquecimento favoreceu, não estava meramente na satisfação incontestável do instinto de tomar ou tocar – porque para isso existem outras oportunidades ansiosamente explorada por pessoas apaixonadas. O valor está muito mais na maneira em que o contato ajudou a esclarecer as perspectivas do galanteio. Especialmente se estivesse simpatizando com o companheiro de diálogo, o inconsciente da senhora adivinharia o objetivo erótico do esquecimento, oculto pelo disfarce da inocência. A maneira de ela corresponder ao contato e aceitar a sua motivação pôde, assim, tornar-se um meio – inconsciente para ambos, mas muito significativo – de chegarem a um entendimento sobre as chances do flerte iniciado pouco antes.” Pág. 57/58
+ Freud literário
Esse é o segundo extrato de Psicopatologia da Vida Cotidiana, de Sigmund Freud, publicado aqui. Anteriormente vimos um trecho de pura literatura, de engenhosidade só encontrada nos contos populares. O trecho de hoje é mais teórico. Ele nos permite pensar de uma forma mais ampla sobre os diversos aspectos da atividade humana, seja ela expressa pela cultura, religião, mitologia ou pelas ações rotineiras da mente. O extrato abaixo pode ser o ponto de partida para se analisar a forma humano-animal dos deuses egípcios, a relação do homem com a natureza, das construções teóricas sobre o mundo natural.
“Quando os seres humanos começaram a pensar, foram forçados, como se sabe, a explicar o mundo externo antropomorficamente, através de múltiplas personalidades semelhantes a si mesmos; eventos casuais, que eram interpretados por eles superticiosamente, eram desse modo atos e manifestações de pessoas. Eles se comportavam, portanto, exatamente como paranóicos, que tiram conclusões de sinais insignificantes fornecidos por outras pessoas, e exatamente suas estimativas a respeito do caráter dos vizinhos nos atos involuntários e casuais deles.”
Psicopatologia da Vida Cotidiana. Sigmund Freud – Imago Editora, 1976 RJ. Pág. 310