segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Conexões: Capítulo 1

CAPÍTULO 1


Março de 2001


O toque do telefone rompeu o silêncio da madrugada. Apesar do horário, Adrian estava acordado, debruçado em um dos mais intrigantes livros do mundo ocidental; o Grimorium Verum. A verdadeira origem do livro é discutida ainda hoje. Acredita-se que foi escrito em algum ponto do século 13 por um certo Alibek, o egípcio, e publicado no Cairo. O Grimorium Verum é tido como um dos livros mais atrozes do gênero, em especial devido ao ritual de necromancia descrito em detalhes. E era justamente isso o que mais atraia Adrian. Ele tinha grande interesse nas ciências antigas, na forma como os conhecimentos mais diversos, como os da Goetia, da magia, dos sutras hindus ou das revelações dos sufis, poderiam se relacionar com a ciência moderna. Alguns pensadores mais extremados chegam a afirmar que a ciência moderna nada mais é do que a redescoberta de tudo aquilo que já está escrito em tratados místicos. Os seguidores dessa linha de pensamento têm fortes evidências. Nos Vedas, por exemplo, milênios antes de filósofos europeus calcularem erroneamente a idade da Terra com base em mitos bíblicos, já se dizia que o universo era composto de inumeráveis planetas e tinha bilhões de anos. O Princípio da Vibração, contido no Caibalion, um texto que remonta ao Antigo Egito, postulou algo que só viria a ser afirmado pela física quântica; a inata vibração de tudo que existe. Descobertas feitas a partir da relatividade foram antevistas em escrituras zen, e milhares são as outras evidencias que surgem a cada dia.
Ainda que Adrian não acreditasse que a ciência estava apenas revelando antigos segredos usando outra linguagem, ele procurava estabelecer paralelos entre as suas pesquisas neurológicas e métodos encontrados nas mais variadas culturas, como a Inca, Tolteca, Suméria, Persa e Dravídica. Apesar de ser um homem da ciência, dividia a acurada metodologia científica com o estudo de ocultismo e mitologia.
Adrian levantou-se apenas devido à persistência do toque, que estava na quinta vez. Odiava ser interrompido durante os estudos, em especial numa noite em que se sentia inspirado e as palavras que lia pareciam mais claras do que nunca.
Ao olhar no visor do telefone viu um número que gelou os ossos. Atendeu sem demora. Sua voz saiu trêmula, insegura, quando disse Alô!
Do outro lado da linha estava o vice-presidente e efetivo controlador de uma das maiores empresas de novas tecnologias do mundo, a TNA.
‘Doutor Adrian Loth?’ Disse Boris Dortman num tom sombrio.
‘Sim. Algum problema, senhor?’
‘O hangar 23 está em chamas.’ E desligou.
Aquela era uma mensagem simples; Adrian deveria se dirigir imediatamente para uma reunião de emergência. Provavelmente a TNA fora atacada. Não havia nenhum hangar 23, aquele era um código, e o mesmo valia para “incêndio”, que significava ataque.
Tentou imaginar o que poderia ter acontecido e suspeitou que algum hacker havia invadido o sistema da TNA e... não ousava completar o pensamento. Em menos de dois minutos estava no carro, dirigindo em alta velocidade para a sala de reuniões. No caminho, continuava a imaginar exatamente o que acontecera. Um ataque físico seria impossível. Ninguém poderia se infiltrar na verdadeira fortaleza que as dependências da TNA eram. Isso era ridículo. Mesmo com a ajuda de alguém do lado de dentro não havia como passar por um dos esquadrões de segurança mais severamente treinados, que tinham ao seu dispor a mais avançada tecnologia, e ainda era supervisionado pessoalmente por Boris, um homem conhecido por seu perfeccionismo.
A outra opção era um ataque virtual. Apesar de ter ao seu dispor uma equipe de hackers que estava continuamente testando e incrementando a segurança da empresa, todos sabiam que um ataque virtual poderia vir a qualquer hora, de qualquer parte do mundo e de qualquer pessoa. Esse é o dilema das grandes empresas atualmente. Os computadores são vitais, seria impossível armazenar todas as informações num arquivo tradicional, quanto mais criar um meio de acessá-las rapidamente. Mas, igualmente, ele podem ser a causa da destruição de qualquer um. Arquivos secretos, estratégias, dados internos poderiam de uma hora para outra tornarem-se públicos.
Se o ataque virtual realmente aconteceu, as questões eram: quanto ele revelou? Quem estava por trás dele? E o que mais importava para Adrian: o Projeto Nova havia sido invadido?
Tudo indicava que sim, pois do contrário não teria sido chamado. Ao imaginar que o projeto que era uma das coisas mais valiosas de sua vida estava em perigo, Adrian ficou pálido, a garganta secou e temeu o pior.
Havia mais. Quando Adrian se aproximava da sede da TNA, o celular tocou. Mas não foi o celular convencional. Era um telefone especial, deveria estar ligado 24 horas por dia, 365 dias por ano, e durante os últimos 2 anos nunca esteve sem ele. Apenas uma pessoa tinha o seu número, e Adrian não podia fazer nenhuma ligação ou falar, apenas ouvir.
O celular tocou uma segunda vez. Adrian parou, estava a menos de um quilômetro da sede. Atendeu. Ficou em silêncio. Do outro lado da linha uma mulher disse com firmeza:

‘Os astros estão caindo.’

A mensagem, também em código, o deixou ainda mais perturbado. Agora estava claro que o Projeto Nova fora atacado, mais do que isso, um projeto paralelo, ultra-secreto, que foi implantado no seio da TNA sem que ninguém além de Adrian e daquela mulher soubessem, também estava em perigo.
Em menos de vinte minutos dois telefonemas o colocaram diante de um verdadeiro pesadelo. Se fosse descoberto, a repercussão destruiria sua imagem, reputação e poderia colocá-lo na cadeia.
O desespero venceu a calma que sempre tentava manter. Num gesto impensado, pegou o celular e ligou de volta.
‘O que vamos fazer? Fomos descobertos, temos que fugir!’ Exclamou.
Do outro lado da linha ouviu apenas uma respiração pesada e uma resposta cheia de ódio.
‘Seu tolo!’
Ele concordou em silêncio, jogou o telefone para o lado e acelerou para a sede da TNA.

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