quinta-feira, 28 de julho de 2011

Psicotexto

Provavelmente um dos livros mais brilhantes de Freud, Psicopatologia da Vida Cotidiana pode ser lido também pelas suas qualidades literárias. É como um bestiário, uma coleção de mitologias modernas, um acesso à vida mental pelos fragmentos inacabados dos caminhos que ela percorre. O extrato abaixo pode ser lido como o motivo de um conto. Ele revela o que a sabedoria popular a muito nos diz, que somos traídos pelos nossos pequenos erros, que pequenos gestos podem revelar intenções profundas.


“Após demoradas lutas internas, esse jovem extremamente cauteloso conseguiu chegar ao ponto de propor casamento à jovem que o amava há muito tempo, assim como ele a amava. Acompanhou a noiva até a casa dela, despediu-se e, na maior felicidade, entrou no bonde e pediu duaspassagens. Cerca de seis meses mais tarde ele havia casado, mas sem conseguir adaptar-se à felicidade da vida conjugal. Estava em dúvida quanto a ter feito bem em se casar, sentia falta das antigas relações com seus amigos e via muitos defeitos em seus sogros. Certa noite foi buscar a jovem esposa na casa dos pais dela, entrou no bonde com a esposa e contentou-se me pedir apenas uma passagem.” Pág. 272/273

Psicopatologia da Vida Cotidiana. Sigmund Freud – Imago Editora, 1976 RJ.

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